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Publicado em.: 06/12/2002..........Fonte..: JORNAL DO BRASIL  
Editoria.....: Cadernob       .....Legenda:       
Página.......: 005.................Edição.: 01     

O Morro do Sapê por Maria Lúcia Dahl

 

Pego o meu carro no estacionamento e um mendigo me dá bom-dia.

- Bom-dia - respondo, educada.  Tudo bem?

- No presente tudo bem, madame, agora, no futuro...

- O futuro ninguém sabe -  consolo-o, apressada.

- E o pretérito perfeito? -  pergunta ele, fazendo-me olhar para trás.

Corro pro Leblon pra me encontrar com o grupo que vai conhecer a Associação dos Moradores e Amigos do Morro do Sapê, fundada em 1986.

Diante da ignorância generalizada de como chegar a Vaz Lobo, decidimos pegar um táxi.

O Morro do Sapê tem de 5 a 6 mil habitantes.  Cinco a 6 mil barracos cobertos de zinco nesses 40 graus (ou seriam 50?), à sombra.  Alguns têm panos à guisa de parede, como um box sujo de chuveiro.  Outros são tão pequenos que mal abrigam uma pessoa deitada.

Chegamos à Sede da Associação, cujo presidente, Sergio, um autêntico líder comunitário, futuro Lula, talvez, na obstinação e tenacidade, substituiu a mãe, primeira presidente da associação, morta por uma bala perdida enquanto passava roupa no seu barraco.

Somos introduzidos na sala de aula, onde cerca de 20 crianças, entre 8 e dez anos, se alfabetizam com uma moça de uns 18, ela mesma ainda cursando o primeiro grau.

A maioria absoluta das crianças é de meninas. A alfabetizadora, Vanessa, que também é mãe desde os 15, reveza-se no cuidado dos alunos e de sua própria filha.  Sua irmã mais velha, Beth, é o braço direito de Sergio.  É ela que nos conta que as mães de todas as crianças ali, incluindo ela, são quase meninas e solteiras.  São elas que bancam os filhos, absolutamente sozinhas.  Algumas crianças têm avós, outras nem isso.  Encarregada de receber R$ 1 de cada morador, o que daria entre R$ 5.000 e R$ 6.000 (caso todos contribuíssem), Beth relata que a maioria não pode dispor nem dessa quantia e que a Comunidade só consegue, em média, R$ 50, que são transformados em despesas com comida, roupa, ambulatório.  (Fico sabendo que os remédios doados a eles têm quase sempre a validade vencida!)

O grosso sai do bolso dos associados, todos voluntários e paupérrimos.  Alguns médicos vêm de longe dar plantão de graça de 8 horas até meio-dia, mas muitas pessoas voltam para casa doentes, sem tempo de serem atendidas, inclusive bebês.

- A escolinha também tem dificuldade de ir adiante, porque, se a professora arranjar um trabalho remunerado, tem que abandonar os alunos pra poder viver - conta Sergio.

- Por isso cada alfabetizadora dura mais ou menos três, quatro meses, dependendo da sorte delas, azar das crianças.

Uma colega do nosso grupo foi quem deu o material escolar dos alunos que, por isso, a apelidaram de Fada, desenhando-a colorida nos seus cadernos.  Vanessa, a professora, cai em prantos ao agradecer os donativos e a nossa visita.  Tento conter a emoção quando ela diz que mantém o máximo de tempo possível as crianças na sala de aula, pois sabe que em casa elas não têm o que comer.

Estamos ali pra ajudar.  Se uma parte da população, num país de 170 milhões de habitantes, fizesse o mesmo, chegaríamos à Fome Zero.  E os brasileiros são solidários.  É só parar com essa mania de achar que é o governo que tem que fazer tudo e que o resto é assistencialismo.  Prefiro chamar de amor.

- O que eu acho tão necessário quanto a comida pra essas crianças são psicólogos que ajudem esses meninos a viver sem pai, com mães exaustas, sem noção de família, humilhadas, jogadas no mundo, carentes de tudo, sobretudo de afeto.

Saímos de lá com a promessa, a convicção, a incumbência e a fé de arregimentar pessoas, arrecadar fundos, ajuda psicológica, comida, roupa e muito afeto para essas crianças assustadas olhando-nos confusas, com seus olhares descrentes.  E entramos em silêncio no táxi que viaja por ruas mal calçadas e cheias de lixo até desembocar no esplendor da Lagoa Rodrigo de Freitas, como Colombo na América.

Nós, os privilegiados da Zona Sul, que já nascemos com o futuro traçado além do pretérito perfeito.

 


Estudar pra quê?

Uma dúvida que paira nas cabecinhas das crianças de todas as gerações é: “para quê tenho que estudar isso?”  Provavelmente quando criança você também já se fez essa pergunta.  Mas o que acontece é que essa questão somente fica esclarecida quando, já crescidos fazemos uso de conhecimentos adquiridos anteriormente.

Muitas escolas e grupos de apoio a crianças carentes tem inserido a atividade “Dia do Profissional”, que tem por objetivo apresentar a rotina de profissionais para as crianças para que elas despertem para a necessidade de estudar, independente da carreira que vão escolher.

Tive a oportunidade de participar de uma atividade dessas no último final de semana.  Conheci um grupo de pessoas que se propõe a colaborar para um futuro melhor de crianças da zona oeste da cidade.  Como já aprendi, nunca deixamos de aprender.  Então, este sábado, tive mais uma lição de cidadania com meus novos amigos: Aline Falcão, Jean Carlos Alves, Canindé e Careca.

Cerca de trinta crianças reunidas numa quadra em Inhoaíba ensaiavam uma coreografia com a música da novela, quando cheguei com Canindé, que foi me buscar no caminho e me explicou um pouco sobre o trabalho desenvolvido naquela comunidade.  Fico sabendo sobre a rotina de treinos de futsal, vôlei e projetos culturais.  Descubro que um pouco de cada um pode se fazer um bem enorme pra muita gente!

Recomendo a todos que forem convidados para fazer parte de uma atividade deste tipo que aceitem.  A sensação é muito gratificante, primeiro de ter contribuído com um projeto social, o que te dá uma certificação pessoal de dever cumprido e segundo, saber que você pode ter feito a diferença na vida de alguém, não é anúncio de cartão de crédito, mas não tem preço!

Carla Pessanha, jornalista.

08/05/2012

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